Monday 21 January 2008

Sheriff!!!!

Como sabem, a minha vida desportiva tem tido muitos mais baixos do que altos.

Estou em crer que se perdeu um hipotético grande desportista mas acredito que se tenha ganho algo em troca. Talvez menos um cepo a passear-se por um qualquer campo dos distritais. A dúvida permanecerá eternamente na minha cabeça.

Adiante.

Fará em Junho de 2010 três anos que, chegado à minha casa nova em Londres e acabado de comprar uma bola de futebol a resolvi ir experimentar para o Hyde Park, qual criança com o seu novo brinquedo. Foi tudo bonito nos primeiros dez minutos até ter escorregado e acabar essa mesma noite no hospital. Operação ao joelho seria o passo seguinte. Não foi uma “Operação Triunfo” como as que há em Portugal até porque, dado o meu historial, cheira-me que não vou ficar por aqui. Quatro já constam nos meus registos.

Até aqui nada de novo.

Há duas semanas e já depois de trabalhar com a Siemens há mais de um ano percebi que todas as Sextas-feiras há um jogo de futebol com o pessoal do escritório. Assim que soube alistei-me logo nos convocados, sem saber muito bem no que me ia meter.

Pois bem, chegado o grande dia, lá me equipei e dirigi-me para o local combinado. Nesse dia, por estranho que pareça, aqui em Londres, choveu torrencialmente toda a manhã, tal como chove, curiosamente, à hora a que escrevo esta “memória”. Ia vestido a rigor mas falhei claramente numa coisa: no calçado. Num campo de relva, depois de ter chovido durante dez horas seguidas e ter jogado com ténis de sola rasa digo-vos que foi uma experiência única. Quando eles souberam que eu era Português ficaram todos à espera de ver o novo Ronaldo e acabaram por ver algo idêntico ao que seria o Zé Castelo Branco a jogar à bola. Verdadeiramente destruidor do meu ego aquela hora e meia.

Acham que isto já é suficientemente deprimente? Antes fosse…

Todos nós, que temos o prazer de dar uns chutos numa bola de quando em vez, sabemos que quando jogamos com pessoas das quais não sabemos o nome, ou até mesmo quando sabemos, há sempre aquelas personagens que passam o jogo a gritar “Polícia!!!”.

Para quem não sabe, quando alguém grita polícia, o portador da bola pode assumir que tem um gajo pronto para lhe apalpar o rabo, por isso é bom que se desfaça dela rapidamente.

Estava eu em pleno jogo, ou pelo menos na minha luta árdua de me aguentar em pé, e ouvia os gajos a gritar “Sheriff!!!” e pensei: “bem, em Portugal é polícia mas aqui parece que um indivíduo sobe na vida, afinal de contas foi por estes lados que nasceu o football”.

Numa tentativa de me inserir no meio comecei a gritar também “Sheriff!!!” para aqui e “Sheriff” para ali. Eu sentia-me já parte da "família" até que um rapazito no alto dos seus metro e oitenta e muito veio ter comigo e disse-me algo do género: “Porque é que me estás a chamar constantemente se eu nem da tua equipa sou!”.

Pois…

Pela primeira vez desde que a bola começou a rolar que me consegui manter estático. Estava literalmente pregado ao chão.

Pedi desculpa, disse que ainda não tinha decorado o nome das pessoas todas ao que ele me disse: “O meu parece que já decoraste!”. Bingo! Fez-se luz! Este jovem é que tem a mania das grandezas.

Estou a imaginar os pais: “Querido, que nome vamos dar ao nosso filho?”. Respondeu o marido, “Como ele pode vir a não ser rigorosamente alguém de respeito, proponho que fique Sheriff, assim garantimos que ele conquista algo, pelo menos de nome!”. Assim foi. Conquistou a minha vergonha ali em menos de nada.

Esta foi a minha primeira experiência futebolística com os meus colegas. Sinto que elevei o bom nome de Portugal até pelo menos aos calcanhares. Não deu para mais até porque tudo o resto parecia demasiado gelatinoso. Parecia uma bailarina Russa na altura da Guerra Fria.

Agora que já pertenço à “família” mal posso esperar pelo próximo jogo. Se me aparece um gajo que se chame “Captain” já não vou cair na mesma… espero eu!

Se o próximo jogo tiver algum motivo de interesse, tal como este não teve, terei o cuidado de o partilhar aqui.

Over and out!

No comments: