Thursday 24 January 2008

O fim da pescaria...


Para quem só apanhou este texto aqui, peço para lerem primeiro os posts com os seguintes títulos:


- Uma pescaria incompleta...; e
- O que falta na pescaria...

Agora sim poderão ler o que aqui está.


(…)

Para ela o mundo parara e só o contacto visual com Carlos a poderia “ressuscitar”. Tinha mergulhado num estado letárgico. Precisava de paz.

A paz em Maria era muitas vezes personificada pela sua veia poética, pela maneira como muitas vezes se agarrava à sua guitarra e enquanto dedilhava umas quantas notas deixava-se levar não só pela música mas também pela sua voz.

Cantarolava baixinho junto à janela, com uma voz que parecia vinda de um anjo, uma música que ela própria tinha escrito antes de Carlos partir para esta pescaria. Recorda-se muito bem desta canção até porque a escreveu com carinho e a cantou a Carlos antes de este sair de casa.

A letra dizia assim:

“ Não vás ao mar Carlos!

O mar está bravo Carlos!

Podes morrer!”

Era esta capacidade poética que dava muitas vezes força a Maria, era esta capacidade poética que a permitia ver a vida de uma maneira mais suave do que aquela que ela realmente era.

O sofrimento era muito. As saudades ainda mais.

O estado de “hibernação” mental era de tal proporção que nem deu pelo choro intenso que se ouvia. Seria um pronuncio que estivera para vir? Preferia acreditar que não.

Dirigiu-se para o quarto e lá estava ele, o fruto da relação entre os dois, Luís de seu nome, uma criança de apenas um ano de idade e que ainda mal sabia andar ou sequer comunicar, mas já dizia o suficiente para Carlos e Maria chorarem de alegria perante tamanha bênção que a vida lhes tinha dado. Ouvir “pai” e “mãe” da boca de um ser vivo, quando a nosso respeito, é sem sombra de dúvidas algo maravilhoso. Carlos e Maria sabiam o quão maravilhoso era ter essa bênção.

Agarrou na criança e levou-o para a sala onde o sentou num banquinho de bebé à mesa de jantar. Deu-lhe o pequeno-almoço, levou-o à casa-de-banho onde lhe mudou a fralda, aproveitando para lhe efectuar toda a sua higiene privada, que nestas idades tem muito pouco de privado, e deixou-o a brincar, já de volta à sala, ao som de uns desenhos animados que passavam na televisão.

Maria naquele dia não estava para brincadeiras e quanto mais olhava para o pequeno Luís, mais se lembrava de Carlos.

Para acalmar a dor não parava de cantarolar baixinho a primeira coisa que lhe vinha à cabeça.

Sentou-se com uma folha de papel à frente e uma caneta na mão. Começou a escrever por impulso sem pensar muito naquilo que saía “impresso” na folha.

“Carlos, meu amor!

Onde estás que aqui estou,

sozinha mas à espera,

desesperada mas não perdida!

Onde estás que vou-te buscar,

fala comigo, por favor!

Oh, meu Deus porque tudo é assim,

tão difícil e solitário!

Se o perdi dá-me força,

dá-me força para acreditar,

dá-me força para… para…”

Neste momento saltou da cadeira e avançou para o seu quarto a passos largos, ignorando Luís que ficou a olhar para a mãe assustado.

Chegada ao quarto sentou-se por momentos na cama com um olhar pensativo, um olhar de caso. Baixou-se ligeiramente e, estendendo a mão por debaixo da cama, remexeu ligeiramente, e, ao retomar a posição inicial, tinha agora uma revista na mão.

A revista tinha o título: “Sou idoso e com orgulho”. Era uma revista, como o título deixava transparecer, sobre o orgulho em ser idoso, tinha também notícias sobre novos aparelhos auditivos, ranking de lares, cuidados a ter nas mudanças de fraldas para idosos, etc. Como qualquer boa revista tinha um artigo dedicado ao top 3 dos idosos do último mês. Este ranking englobava os idosos de todo o país e o ranking era feito com base em três grandes critérios: simpatia, higiene e estado de senilidade. Aparecer naquele ranking era o mesmo que dizer que ainda não se era velho o suficiente, apesar de por algum motivo alguém os ter posto num lar. Escusado será dizer que nas notas relativas aos três primeiros classificados havia uma fotografia de cada um bem como o lar em que se encontravam.

Aquela revista já tinha dois meses mas Maria guardou-a com muito cuidado até porque, naquele mês, dois dos idosos estavam num lar relativamente próximo da vila onde Maria vivia.

Maria fechou a revista ao seu colo. Ainda sentada, deixou-se cair ligeiramente para trás, apoiando-se com a palma das mãos na cama. Pensava. Suspirava. Pensava. Suspirava. Não exactamente nesta mesma ordem mas pensou muito e suspirou, também muito.

Levantou-se e seguiu muito devagarinho em direcção à sala como que anestesiada pela ideia que lhe passou pela cabeça no momento em que escrevia os seus desabafos.

Chegada à sala, olhou pela janela e nada. Nem um sinal de vida. Olhou para o Luís e viu que este adormecera naquele suposto instante em que esteve no quarto.

Aproveitando que parecia tudo ter parado à sua volta, saiu de casa, meteu-se na bicicleta e partiu à aventura. Primeira paragem, esteticista “Marlineide” onde depilou as pernas pela primeira vez na sua vida. Quem olhava para ela não se apercebia até porque tinha um estilo nórdico, tirando ser morena. Foi mais uma necessidade de fazer algo diferente e que muitos idosos já faziam.

Voltou para a bicicleta, já de pernas “limpas”, e pedalou como se não houvesse amanhã. Passou vales, colinas e estava finalmente numa estrada alcatroada. Seguiu mais um pouco e deparou-se com um edifício que reconhecera depois de o ter visto uns minutos antes em sua casa. “Lar Daqui Não Passa”.

Chegara.

Saiu da bicicleta mas não a largou. Olhava em volta na esperança que ninguém conhecido por ali andasse. Sentia-se a trair os seus sentimentos mas mesmo quando Carlos estava em casa, Maria sofria por conhecer o Sr. Juvenal e o Sr. Amílcar. Não era um sentimento novo ou uma fuga para o abismo. Era apenas um acto de coragem no seguimento do que o seu coração lhe pedia.

Precisava conhecer os dois idosos nomeados para o top 3 da Revista de Novembro de 2007.

Largou a bicicleta junto à porta e tocou à campainha do Lar.

Ninguém respondeu pelo que tocou novamente, ouvindo-se do outro lado: “Já vai!!!! Ai a porra que estamos com pressas!”.

Ouvindo o som do destrancar da porta, Maria sentiu a boca secar instantaneamente pelos nervos da situação. Ao ver a porta abrir suavemente, Maria deparou-se com uma senhora jovem, bonita, de cabelo claro e ligeiramente abaixo dos ombros, uma postura simpática e cativante que lhe disse: “O que é que queres a um Domingo e depois da hora das visitas?”.

Maria não sabia o que dizer. Os nervos bloquearam-na e só balbuciava sons sem qualquer nexo, deixando a senhora prestes a fechar-lhe a porta na cara por achar estar a ser alvo de uma brincadeira de mau gosto até que Maria foi capaz de dizer a seguinte frase: “Gostava de ver o Sr. Juvenal Matias e o Sr. Amílcar Lopes. Isso mesmo, Juvenal Matias e Amílcar Cabral.”. A senhora, num ar meio espantado olhou para ela e perguntou-lhe se ela por acaso os conhecia e caso os conhecesse porque é que não tinha vindo à hora das visitas e porque é que era a primeira vez que a via por ali.

Maria estava sem saber o que haveria de dizer. Não podia dizer ser prima porque se fosse prima de um, como poderia conhecer o outro? A segunda ideia que lhe veio à cabeça saiu em voz alta: “Sou da revista “Sou idoso e com orgulho” e gostaria de falar novamente com os nossos campeões!”. “Campeões uma ova, respondeu a funcionária!” adicionando logo de seguida, “já te apanhei a tanga filha porque esses dois são invenções nossas. Não existem. Arranjámos fotos de gajos bons em revistas estrangeiras, cortámos, e mandámos para a vossa revista a dizer que eram velhos exemplares. Sabes porque é tanga? Porque vos pagámos para vocês não nos virem chatear. Capiche?” (dito desta maneira)

Maria sentia os sonhos desmoronarem-se um a um. Primeiro ao sentir que Carlos desaparecera e agora tinha percebido que afinal de contas o Sr. Juvenal e o Sr. Amílcar também não passavam de uma mera ilusão…

Pobre vida a de Maria.

Entretanto em pleno alto mar.

“Carlos, não te atires pá!!!”, “não faças isso!!!”, “não te desgraces!!!”, eram algumas das coisas que se gritavam naquela embarcação “estacionada” em pleno alto mar.

Todos olhavam para Carlos na proa do barco, agarrado já pelo lado de fora, enquanto este admirava Gisberta Suzeta, uma baleia azul, de elevado porte mas com uma sensualidade fora do comum até mesmo para uma baleia. Carlos apenas dizia: “não me parem meus caros amigos e companheiros, estou apaixonado como nunca estive! Vejam-me esta graciosidade! Quando chegarem avisem a Maria e estou certo que ela compreenderá!”.

Enquanto Carlos dizia isto, os restantes pescadores olhavam uns para os outros incrédulos com o que estavam a presenciar. Marco, com um certo receio afirmou, “eu comi o mesmo que ele. Será que foi da comida? Não me sinto muito bem!”.

Disto isto, Carlos desapareceu. Acabara de saltar.

Correram todos para a proa do barco e viram Carlos em cima da Gisberta. Carlos mexia-se compulsivamente em cima da baleia na esperança que ela o sentisse. Acariciava-a, beijava-a, glup glup glup, de volta à superfície continuava a beija-la, e a ter outras demonstrações do muito amor que sentia.

Se fosse possível tirar uma fotografia naquele momento o meu voto seria claramente para se tirar uma fotografia aos infelizes que do barco viam aquele espectáculo. A incredulidade estava estampada na cara de cada um.

Chegara o momento. Carlos virou-se para trás e gritou: “Pessoal, nunca vos esquecerei! Expliquem à Maria e ao Luís por favor! Eles compreenderão! Vou andando com a Gisberta porque está a ficar tarde!” e, como que num golpe de magia, Gisberta dá um coice com a sua enorme cauda e desaparecem os dois.

Ficaram todos a olhar para o mar durante uns bons quinze minutos até que viram Carlos a boiar em pleno oceano, já sem vida, tal a temperatura gelada a que o corpo chegou e à quantidade de água que os pulmões tinham.

Todos chegaram à conclusão que a Maria nunca iria acreditar na história da Gisberta pelo que pensaram numa maneira de solucionar o problema com algo bem mais viável e que levasse a Maria a reagir de uma maneira mais positiva perante a vida.

Concordaram todos em cortar o pénis ao Carlos e dizer à Maria que ele, durante aqueles dias isolado e só com homens em pleno alto mar, quisera mudar de sexo. O seu nome passou a ser Odete Santos.

Estavam todos orgulhosos da brilhante ideia. Um deles inclusivamente referia: “Isto podia mesmo acontecer. Eu tenho um primo na Marinha que disse ter visto uma coisa assim, a diferença é que o infeliz morreu de lhe terem cortado o pénis”.

(Uns dias mais tarde)

Maria não se conseguia refazer do choque que a vida lhe trouxera. Tudo parecia sem lógica ou nexo. Nada tinha mais razão de ser.

Carlos não regressara.

Ao olhar para Luís, como que num acto de esperança e rejuvenescimento, Maria disse: “O Carlos está personificado em ti, meu querido Luís… como tal anda jantar fora e pagas tu!”

Assim foi…

O que falta na pescaria...

Analisando os comentários passo a enumerar os factores que terão de me guiar na conclusão do pequeno conto que comecei há dois dias:

  • Maria farta-se de esperar e foi em busca de uns senhores que vira numa revista para adultos;
  • Maria depilou as pernas pela primeira vez na vida;
  • Duas versões para o que possa ter acontecido a Carlos: mudou de sexo e hoje chama-se Odete Santos ou apaixonou-se por uma baleia azul de nome Gisberta Suzeta que lhe viria a custar a morte por hipotermia;
  • Maria e Carlos estão casados e têm um filho de 1 ano, o Luís;
  • Luís está agora a começar a andar;
  • Maria canta muito bem, adora compor e escrever poemas;
  • A melhor amiga de Maria é a guitarra;
  • Carlos não regressa tão cedo.

Pois bem, é através deste conjunto de informações que irei terminar com isto…

Já vi que o Carlos vai morrer mas ao mesmo tempo não virá tão cedo. Porreiro.

Agora resta-vos esperar pelo que aí vem sendo que a partir de agora não vale a pena acrescentarem mais o que quer que seja aos comentários mas sim guardem as vossas brilhantes ideias porque brevemente tentarei fazer algo do género.

Até já…

Wednesday 23 January 2008

Uma pescaria incompleta...

Chegou o grande dia.

Carlos chegava hoje e Maria não escondia o nervosismo.

Como qualquer pescaria, hora prevista de chegada eram meros palpites de probabilidade reduzida e Maria já tinha aprendido que o mais importante era que todos chegassem com tanta ou mais saúde do que aquela com que partiram, fazia naquele dia, vinte e dois dias.

Era um pedido simples mas carregado de significado. Mentalmente ela dizia a si própria que para ter o Carlos com saúde até nem se importaria de esperar mais um dia, mas quanto mais pensava daquela maneira mais se sentia desprotegida e com medo.

Frequentemente viam-se lágrimas nos olhos de Maria. Lágrimas de esperança mas também lágrimas de medo. O olhar dela parecia um farol, a percorrer o mar à espera de ver sinais do barco que levara Carlos.

O sol ameaçava acordar a qualquer momento. Por enquanto ainda se encontrava tudo escuro mas já com um pequeno rasgo de luz ao fundo no horizonte, embalado ao som de uma leve brisa matinal que uivava suavemente ao bater na janela. Aos ouvidos de Maria, aquele uivar parecia ser o barulho do barco a chegar. Tudo lhe fazia “ver” o barco chegar.

Por diversas vezes colou a cara à janela na esperança de confirmar o que afinal não passara de uma mera ilusão.

Durante horas olhou o mar sem descobrir o que esperava.

O dia estava agora claro. A brisa acalmara.

Maria nem deu por todas estas mutações. Continuava exactamente na mesma posição em que se encontrava desde madrugada, sentada num banco encostado à janela, pernas bem juntas como se tivessem coladas pelo frio, a segurar um Terço com as duas mãos e o olhar fixado na imensidão do mar à sua frente.

Para ela o mundo parara e só o contacto visual com Carlos a poderia “ressuscitar”. Tinha mergulhado num estado letárgico. Precisava de paz.


(…)


Ela de paz e eu da vossa ajuda.

Queiram, por favor, mandar uns quantos comentários com possíveis saídas para este cenário um pouco pesado.

Depois de ler todos os comentários, prometo que vou terminar este pequeno “conto” por isso peço-vos para serem vocês a acrescentar um “ponto”.

A versão final depende do número e qualidade dos comentários. Vá mostrem-me do que são capazes.

Estou curioso pelo que aí vem.

Monday 21 January 2008

Adelaide


- Adelaide, quero os vidros da montra todos limpinhos!!! – disse o Sr. Lopes num tom autoritário à nova recruta do gabinete de limpezas.


- Sim patrão!!! Mais alguma coisa? – retorquiu Adelaide num tom envergonhado e temerário.

- Por acaso até sim. Quero mesmo todos os vidros muito limpinhos porque vi um filme num blog do “estou aqui estás ali”, ou lá como é que aquilo se chamava, e se tiverem todos limpinhos pode ser que alguém lhe dê uma valente cabeçada, que os parta e o seguro paga-nos um novo. Percebestes? – acrescentou o Sr. Lopes num tom de satisfação pela brilhante ideia que acabara de ter.

- Sim Sr. Lopes. – respondeu imediatamente Adelaide enquanto o cérebro assimilava uma informação em tudo idêntica a “blá blá blá, Whiskas saquetas…”!

Viradas as costas ao patrão, que não parava de remexer em papéis como se tivesse à procura da chave do euro milhões que pensava ter ganho, Adelaide foi ter com as colegas.

Chegada ao grupo cuja soma dos QIs resultava no valor acumulado de 146, Adelaide começou por perguntar:

- Carmén, Clarice, Vanda, Vanessa, Miranda, Denise, Marineide, Valuchenka, Krimanova, Ana, Lucineide, Rute, Valéria e Priscila – já que não se lembrava do nome das outras 7 – o patrão pediu-me para lavar a montra porque viu que as pessoas podiam bater com a cabeça e estavam ali e agora estão aqui. O que quer isto dizer?

Todas olharam umas para as outras e sentiu-se os últimos neurónios vivos naquela sala a soltarem o suspiro final. Imediatamente olharam todas para a Denise que se defendeu logo a dizer que daquela vez não teria sido ela. Vai-se lá entender esta gente…

Quem resolveu arriscar foi Valuchenka.

- Adelaide, acho que o que o Sr. Lopes te queria dizer era que ele tinha visto um filme num blog, chamado “Estou aqui estou ali!!!” no qual um individuo limpou de tal maneira um vidro que as pessoas iam constantemente contra o mesmo e que se fizermos algo idêntico aqui, pode ser que algum se parta e estou em crer que o Sr. Lopes sabe que não será ele a pagar a mudança.

Estava provado onde residiam os únicos neurónios com amiguinhos.

Todas olharam para Valuchenka, com um ar de incredulidade, depois olharam entre elas, com olhar de parvas. O que é que ela teria acabado de dizer, questionava-se cada uma delas, tirando Krimanova está claro, que percebera a informação perfeitamente.

Levantaram-se todas, uma a uma, agarraram no material de limpeza e lá foi cada uma a pensar no que tinha acabado de ouvir. As conclusões foram variadas mas há imagens que valem por mil palavras.

As imagens que passo a mostrar resultam da actividade da Adelaide. "Aquelas portas vão ficar tão limpas que toda a gente quando for a passar é como se elas não tivessem lá e ainda as partem!!! Ihihih!!!" - pensou ela...

Brilhante!

Sheriff!!!!

Como sabem, a minha vida desportiva tem tido muitos mais baixos do que altos.

Estou em crer que se perdeu um hipotético grande desportista mas acredito que se tenha ganho algo em troca. Talvez menos um cepo a passear-se por um qualquer campo dos distritais. A dúvida permanecerá eternamente na minha cabeça.

Adiante.

Fará em Junho de 2010 três anos que, chegado à minha casa nova em Londres e acabado de comprar uma bola de futebol a resolvi ir experimentar para o Hyde Park, qual criança com o seu novo brinquedo. Foi tudo bonito nos primeiros dez minutos até ter escorregado e acabar essa mesma noite no hospital. Operação ao joelho seria o passo seguinte. Não foi uma “Operação Triunfo” como as que há em Portugal até porque, dado o meu historial, cheira-me que não vou ficar por aqui. Quatro já constam nos meus registos.

Até aqui nada de novo.

Há duas semanas e já depois de trabalhar com a Siemens há mais de um ano percebi que todas as Sextas-feiras há um jogo de futebol com o pessoal do escritório. Assim que soube alistei-me logo nos convocados, sem saber muito bem no que me ia meter.

Pois bem, chegado o grande dia, lá me equipei e dirigi-me para o local combinado. Nesse dia, por estranho que pareça, aqui em Londres, choveu torrencialmente toda a manhã, tal como chove, curiosamente, à hora a que escrevo esta “memória”. Ia vestido a rigor mas falhei claramente numa coisa: no calçado. Num campo de relva, depois de ter chovido durante dez horas seguidas e ter jogado com ténis de sola rasa digo-vos que foi uma experiência única. Quando eles souberam que eu era Português ficaram todos à espera de ver o novo Ronaldo e acabaram por ver algo idêntico ao que seria o Zé Castelo Branco a jogar à bola. Verdadeiramente destruidor do meu ego aquela hora e meia.

Acham que isto já é suficientemente deprimente? Antes fosse…

Todos nós, que temos o prazer de dar uns chutos numa bola de quando em vez, sabemos que quando jogamos com pessoas das quais não sabemos o nome, ou até mesmo quando sabemos, há sempre aquelas personagens que passam o jogo a gritar “Polícia!!!”.

Para quem não sabe, quando alguém grita polícia, o portador da bola pode assumir que tem um gajo pronto para lhe apalpar o rabo, por isso é bom que se desfaça dela rapidamente.

Estava eu em pleno jogo, ou pelo menos na minha luta árdua de me aguentar em pé, e ouvia os gajos a gritar “Sheriff!!!” e pensei: “bem, em Portugal é polícia mas aqui parece que um indivíduo sobe na vida, afinal de contas foi por estes lados que nasceu o football”.

Numa tentativa de me inserir no meio comecei a gritar também “Sheriff!!!” para aqui e “Sheriff” para ali. Eu sentia-me já parte da "família" até que um rapazito no alto dos seus metro e oitenta e muito veio ter comigo e disse-me algo do género: “Porque é que me estás a chamar constantemente se eu nem da tua equipa sou!”.

Pois…

Pela primeira vez desde que a bola começou a rolar que me consegui manter estático. Estava literalmente pregado ao chão.

Pedi desculpa, disse que ainda não tinha decorado o nome das pessoas todas ao que ele me disse: “O meu parece que já decoraste!”. Bingo! Fez-se luz! Este jovem é que tem a mania das grandezas.

Estou a imaginar os pais: “Querido, que nome vamos dar ao nosso filho?”. Respondeu o marido, “Como ele pode vir a não ser rigorosamente alguém de respeito, proponho que fique Sheriff, assim garantimos que ele conquista algo, pelo menos de nome!”. Assim foi. Conquistou a minha vergonha ali em menos de nada.

Esta foi a minha primeira experiência futebolística com os meus colegas. Sinto que elevei o bom nome de Portugal até pelo menos aos calcanhares. Não deu para mais até porque tudo o resto parecia demasiado gelatinoso. Parecia uma bailarina Russa na altura da Guerra Fria.

Agora que já pertenço à “família” mal posso esperar pelo próximo jogo. Se me aparece um gajo que se chame “Captain” já não vou cair na mesma… espero eu!

Se o próximo jogo tiver algum motivo de interesse, tal como este não teve, terei o cuidado de o partilhar aqui.

Over and out!

Imperdível!!!


Quero-vos apresentar um novo grupo musical: Flight of the Conchords!!!


Quando alguém pensar em fazer-me uma festa surpresa, são estes gajos quem eu quero a abrilhantar a noite!!!

Eu juro que vou ao palco e canto uma música com eles. É só ter a oportunidade...

Deliciem-se!!!

Uma lufada de ar fresco na música mundial... depois de Rouxinol Faduncho!





Sunday 20 January 2008

Uma real maravilha!


Sociedade Americana no seu melhor!

Vejamos um pouco do que se passa numa das sociedades mais "evoluidas" do mundo!!! Aquela de quem se diz dominar a economia mundial, entre outras coisas à mesma escala!

Aprendamos...

Lições a retirar:
  1. Deixar sempre uma marca por onde se passa. Sempre ouvi dizer que há dedo Americano pelo mundo fora. Passei a saber que há algo mais do que um dedo: pelo menos uma testa e talvez uns narizes partidos. Tudo propositado; e
  2. Parece que nos EUA enquanto uma pessoa entra num café e sai a porta normalmente muda de lugar. É uma questão de sorte. Há quem arrisque sair por onde entrou;
Vejamos...

O homem que até morto lhe dá a sede!


Gostava de partilhar com vocês uma notícia que saíu no semanário "Sol" deste fim-de-semana que hoje acaba, para muita pena minha, diga-se de passagem.

No chile
Homem de 81 anos 'ressuscita' em pleno velório
Um homem chileno de 81 anos levantou-se do caixão durante o seu próprio velório, perante o espanto dos familiares que choravam a sua morte, segundo com um jornal diário local

A família de Feliberto Carrasco tinha encontrado o seu corpo inanimado e frio, convencendo-se de que estava morto.
Os familiares contactaram uma agência funerária para organizar as cerimónias fúnebres, mas não chamaram um médico para confirmar o óbito.
«Eu nem podia acreditar. Pensei que não estava a ver bem e fechei os olhos», contou o sobrinho de Feliberto Carrasco.
«Quando reabri os olhos, o meu tio estava a olhar para mim. Comecei a chorar», prosseguiu.
Por seu lado, Feliberto diz não ter sentido qualquer dor, apressando-se apenas a pedir um copo de água.
As rádios locais também foram surpreendidas, tendo que rectificar aos seus ouvintes o anúncio da morte, prematuramente anunciado.


Podia acontecer a qualquer um de nós, digo eu.


Eu próprio quero ir de papinho cheio senão não vou.

Tenho dito.

Saturday 19 January 2008

Um passeio de autocarro...

Deixem que vos conte uma cena verdadeiramente divinal a que eu assisti no outro dia dentro de um autocarro aqui em Londres. A cena em si foi verdadeiramente ridícula e de mau gosto mas acredito que bem contada, até poderá ser motivo de um valente sorriso espontâneo.

Como estava eu a dizer, encontrava-me dentro de um autocarro, autocarro este que nem me servia minimamente mas não sei bem porquê lá estava eu. Eu queria ir para Oeste e o autocarro ia para Este mas fui assolado por um espírito aventureiro que me fez pensar: “Deixa lá ver onde é que isto vai parar”. Recordo-me que ao início da viagem ainda achava piada porque estava a ver coisas novas em Londres e sítios para os quais nunca iria até que por curiosidade fui perguntar ao motorista para onde é que ele afinal levava aquele valente caixote. A resposta dele deve ter soltado em mim o olhar mais aterrador que ele alguma vez viu que ele parou o autocarro logo ali, abriu a porta, eu fui para a outra faixa, apanhei mais um autocarro e comecei mais um “passeio”.

Bem, até aqui nada de novo mas também não foi para vos dizer que gosto, propositadamente, de passear pelas ruas de Londres com motorista privado que comecei a escrever isto.

A beleza do meu passeio decorre de uma discussão entre duas senhoras de respeitosa idade. Como é natural e por uma questão de delicadeza não me ocorreu questioná-las de quantos Invernos (aqui não há Primaveras) já tinham visto passar mas claramente já eram alguns, talvez uns setenta para uma e uns sessenta e qualquer coisa para outra.

Estava perante um choque de gerações.

Pois bem, vou-me deixar de “palhear” (arte de colocar palha) e vou directo ao assunto.

Recordo-me que a velha mais nova, Natércia aqui em nós, já se encontrava agarrada ao varão mesmo à minha frente, relativamente perto da porta central do autocarro. Não soou nada bem mas é a verdade nua e crua.

O autocarro encontrava-se uma verdadeira lata de sardinha e não havia espaço para uma pessoa andar mas quando a Esmeraldina entrou no autocarro, a velha que era mesmo velha, achou que podia andar até que alguma alma caridosa a deixa-se “assentar-se”.

No seu trajecto até ao dito poiso teve de passar por Natércia e aí começou a festa.

O autocarro estava silenciado pela monotonia da viagem, pelo tempo chuvoso lá fora, parecia que todas as pessoas desesperavam por chegar a casa, descalçarem os sapatos, estenderem-se ao comprido no sofá, rezarem para que os filhos hoje ficassem sossegadinhos e ali pudessem relaxar durante uma boa horinha. Eu, claro, já pensava no meu próximo passeio de autocarro.

Quando a Esmeraldina se cruzou com a Natércia, pediu-lhe delicadamente se a podia deixar passar, ao que a Natércia lhe respondeu: “A senhora quer ir para onde?”.

Esmeraldina, ainda começou por responder com um simples “Quero ir para ali", apontando para a ponta final do autocarro, mas quando se apercebeu do teor da pergunta, passou-se e disse já num tom mais agressivo tipo, olha o raio da catraia, hein?, “Mas o que é que tem a ver com a minha vida?”.

Estalou o verniz.

Natércia mandava bocas, Esmeraldina outras bocas mandava e toda a gente permanecia calada. Alguns deu a ideia que acordaram e calçaram-se depois de perceberem que afinal ainda não estavam em casa. É sempre bonito ver pessoas descalças nos transportes públicos.

Quando Natércia finalmente começou a “ceder” para deixar a Esmeraldina passar todos nós pensámos que a festa ia acabar. Eu confesso que esperava mais. Pura ilusão. Teria mesmo mais.

Conforme a Esmeraldina está a passar por Natércia, esta com um golpe de cotovelo prega-lhe um valente empurrão pelas costas. Como em qualquer filme de acções sério e com necessidade de engonhar mais uns minutos, eu próprio vi a cena em câmara lenta.

Enquanto a Esmeraldina se debatia para se aguentar em pé tive o discernimento para olhar as expressões das pessoas à volta. Algumas tinham uma expressão facial de puro regozijo para a situação que estavam a ver, uma senhora com o saco das compras à frente mostrava pânico como que a dizer “lá se me vão os ovos outra vez!”, outros pensavam “ora bolas, com esta ciática e uma velha estendida no chão, como é que vou sair na próxima paragem”. Enfim, muita coisa foi meditada naquele momento que parece ter durado uma eternidade. Eu, como é óbvio, pensava para onde iria a seguir, de autocarro.

Esmeraldina aguentou-se. Olhou para trás, fez um gesto agressivo a parecer que lhe ia às beiças com aquele punho direito repleto de cachuchos, virou-lhe as costas e foi-se sentar.

Ainda tiveram as duas a falar em voz alta durante mais uns cinco minutos. Não falavam para quem quer que fosse em especial mas preocupavam-se em falar alto para ver se a outra ouvia. Típico, não é?

Com isto tudo, acabou por ser um passeio bem giro. Uma viagem que demoraria vinte minutos do meu escritório a minha casa, acabou por demorar uma hora.

Valeu a pena.

Friday 18 January 2008

Polícia britânica

Meus caros,

Para todos aqueles que pretendam vir a Inglaterra, aqui vos deixo um bom motivo para não se portarem mal. São pessoas como as que vão ver na fotografia em anexo que vos vão chamar à atenção e se nem mesmo assim mudarem de atitude sabe-se lá do que eles são capazes.

Quem vos avisa vosso amigo é.

"Security above all" é o lema aqui.

Estou mesmo a ver as viagens marcadas à pressa para virem aqui passar fins-de-semana. Aqueles de vocês que vieram cá nas próximas semanas sei bem para o que vêm. Fotografia inspiracional pensarão alguns.

Ponham autocarros destes já a passar pela Serra de Monsanto. Ninguém mais vai ser apanhado de calças nas mãos!!! Tenho dito!!!

Peço-vos especial atenção ao polícia da esquerda. Publicando aqui no blog não corro o risco que vocês apaguem a fotografia sem que percebam o que não perceberam, se é que me percebem.



Para quem chegou aqui e não percebe o que esta fotografia tem de especial então peço-vos para se concentrarem na posição do tubo de escape.

Já está???

Heina!!!

Ora que graçola, hein?

Sem comentários!!!



Jornalismo Desportivo

No seguimento de muitas noticias de extrema utilidade prática para o nosso quotidiano, principalmente num jornal desportivo, acabo de ler uma que nos afecta a todos, especialmente a mim. Falo-vos da destruição da camada do ozono e da consequente eliminação da qualidade do ar e do ambiente, já para não falar dos odores nauseabundos.

Foi descoberto um surto muito forte aqui em Londres para o qual peço uma especial atenção.

O Record, como vão poder ver, está em cima do acontecimento. (Podre, desculpem, pobre coitado do jornalista)

"Ventos" de mudança no Tottenham
TÉCNICO JUANDE RAMOS INTRODUZIU DIETA POLÉMICA

Quando chegou a White Hart Lane, o treinador espanhol Juande Ramos considerou que os jogadores do Tottenham seguiam um regime alimentar pouco saudável, algo que, na sua opinião, degenerava numa falta de fôlego e frescura física nos minutos finais das partidas, além de algum excesso de peso.

Depois de se instalar no emblema inglês, Ramos decidiu alterar este aspecto determinante da preparação dos atletas, ordenando mudanças quanto às refeições. E rapidamente se passou a ver nos pratos uma nova dieta, baseada primordialmente em verduras e muito frango.

Até aqui tudo bem. O guarda-redes Paul Robinson e o médio Huddlestone, dois dos casos mais "pesados" da má alimentação no Tottenham, bem como todos os restantes membros do plantel spur, registaram francas melhorias a nível físico, resultado do novo regime do técnico espanhol.

Contudo, como nem tudo são rosas, ou o cheiro delas, os novos pratos trouxeram com eles "ventos" de mudança no balneário, como explica ao diário inglês "The Sun" uma fonte do clube: "A nova dieta está a funcionar em pleno no que diz respeito à perda de peso, mas está a ter efeitos secundários embaraçosos."

É que, de acordo com a mesma fonte, existem autênticos "concertos" no recato dos vestiários: "É como um jogo de ténis no balneário. Não param de se soltar gases por todo o lado."

Autor: VICTOR VAGO
Data: Quarta-feira, 16 Janeiro de 2008 - 03:42

Como esta notícia melhorou a qualidade do meu dia. Pode não ter melhorado a do ambiente mas o meu dia melhorou exponencialmente.

Muito obrigado Record.

O meu bem haja para o Victor Vago. (com este nome e com este artigo meu caro, podia passar aqui um dia inteiro a fazer chalaças com o teu nome mas vou deixar que o artigo "fale" por si)

P.S.
Preciso da vossa ajuda para revitalizar este espaço pelo que se puderem mandem-me artigos engraçados e eu terei o cuidado de os "destruir" publicamente. Agradecido.